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  • Foto do escritorRaphael Falcão

Senhor dos Porcos


menino náufrago, preocupado, Senhor das Moscas,  Viktor Frankl, autor: Raphael Falcão

Quem já assistiu ao filme O Senhor das Moscas, deve ter se perguntando se realmente os fatos que se passaram no filme aconteceriam na realidade. Como toda boa obra artística, a história dos garotos náufragos divide opiniões há décadas desde que o livro que inspirou o filme foi escrito em 1954. A obra de William Golding conta a história de um grupo de alunos de escola militar que naufragam em uma ilha e lutam para se manter vivos diante das condições adversas impostas pela impiedosa mãe natureza. No filme, os jovens, outrora amigáveis, se veem numa situação onde, na falta de civilização, passam a entender suas responsabilidades como um fardo, levando a maior parte dos meninos à degeneração até um estado tribal. Em face disso, não pude deixar de lembrar do que Freud afirmava sobre situações de total privação das necessidades fisiológicas, onde o resultado seria a regressão animal, prevalecendo o domínio do ID (impulsos primais) sobre as demais influências. Na obra, contudo, não foi exatamente isso que ocorreu. Embora a maioria dos jovens tenham cedido, as pressões sanguinárias impostas pelas circunstâncias não foram suficientes para quebrar alguns deles, que passaram até mesmo a ter de combater os demais garotos. Nesse sentido, uma interpretação mais precisa sobre o comportamento desses garotos seria uma que se assemelha ao observado pelo psiquiatra Viktor Frankl ao relatar sua experiência nos campos de concentração, ele dizia: “santos e porcos se revelavam, a fome era a mesma, os homens é que eram diferentes”, sendo o espírito - no sentido antropológico e não necessariamente teológico - responsável pela objetivação consciente diante dos instintos.


Em 1965, um grupo de estudantes da Oceania, por diversão, roubaram um barco e acabaram naufragando em uma ilha no Pacífico, sobrevivendo lá por mais de um ano. Não só todos eles sobreviveram, como diferente do retratado em O Senhor das Moscas, os jovens não regrediram a um estado caótico, mas revelaram uma incrível noção de ordem durante esse período, mantendo uma fogueira sinalizadora acesa desde o primeiro dia em que chegaram, e cultivando uma saúde física invejável, com direito a academia improvisada! Trazendo à tona uma realidade muito mais otimista do que a descrita por Golding, onde a maioria dos jovens — quase deterministicamente — abraçam seus impulsos, quando, na realidade:

“O homem possui instintos, mas os instintos não possuem o homem.” Viktor Frankl
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